Chega pode baralhar as contas das autárquicas

(Publicado no Diário Insular de 08 de Out. de 2025)


Rafael Cota (*)


Nas eleições autárquicas do próximo Domingo, há um elemento que pode influenciar a matemática dos partidos e coligações. Trata-se do Chega. Nas autárquicas de 2021 o Chega obteve valores residuais da ordem dos 1,8% em Angra e 1,3% na Praia, mas já nas legislativas do ano passado conseguiu cerca de 2770 votos no concelho de Angra, o que corresponde a uma percentagem de 17% e na Praia da Vitória teve 1815 votos, representando 21%. Tanto em Angra como na Praia, foi a terceira força partidária e os resultados aumentaram relativamente às eleições legislativas de 2024.
Fazendo os cálculos da distribuição dos mandatos pelo método de Hondt a partir dos resultados das últimas legislativas de 2025, o Chega conseguiria 2 dos 7 mandatos na Câmara da Angra e 2 na Câmara da Praia.
Ora, o Chega volta a concorrer às Câmaras de Angra e da Praia. Tendo em conta o crescimento que o Chega tem registado de eleição para eleição, tanto no país como na Região, é de admitir que o mesmo fenómeno se possa verificar nas autárquicas de 12 de Outubro e, porventura, em algumas situações, possa baralhar as contas a alguns partidos. Isso poderá também verificar-se noutras câmaras da Região.
Deve ter-se presente, todavia, que os resultados de uma eleição não são literalmente um indicador para outro ato eleitoral, muito menos nas autárquicas onde pesa, de forma especial, o nome e a experiência das pessoas que fazem parte de cada lista. Acresce que nas legislativas nacionais a campanha tem uma dinâmica e um debate das figuras e das causas do país e uma mensagem que chega sobretudo das televisões nacionais.

ANGRA E PRAIA
Em Angra o PS volta a apresentar-se na corrida, bem como o Bloco de Esquerda, a CDU, o Chega e a Iniciativa Liberal. O PSD apresenta-se em coligação com o CDS.
Na Praia, depois de 16 anos de liderança do PS, a coligação PSD/CDS-PP ganhou a Câmara há quatro anos. A Coligação vencedora volta a apresentar-se na corrida, bem como o PS, a CDU, o Bloco de Esquerda e o Chega.


NOME E EXPERIÊNCIA
As eleições autárquicas são as mais peculiares, aquelas onde, de forma especial, tem grande peso o nome das pessoas que constituem as listas, em muitos casos mais do que o partido. Chega-se a dizer que há figuras que venceriam por qualquer partido, uma força de expressão que será válida em muitas circunstâncias.
Mesmo com a possibilidade de surgirem surpresas, tem sentido rever os resultados das últimas eleições para deixar uma ideia do quadro que ficou das eleições de 2021,  designadamente na evolução das votações e das câmaras mais próximas de Angra e da Praia.
No conjunto dos concelhos pode ver-se que até 2005 o PSD esteve à frente nas votações em termos de resultados globais da Região, a partir de 2009 o PS ocupa esse lugar, seguindo a viragem ocorrida nas eleições regionais de 1996.
Nas últimas eleições de 2021, o PS conseguiu 9 presidências de Câmaras, o PSD 5 e o CDS 1. As coligações constituídas pelo PSD, CDS e PPMvenceram as Câmaras da Praia da Vitória, da Graciosa e da Horta. Na Calheta um grupo de cidadãos ficou à frente da Câmara.
No entanto, tendo em conta que em muitas autarquias o PSD concorreu em coligação com o PP e com o PPM, se somarmos os resultados das diferentes coligações, o total das presidências de Câmaras juntamente com o PSD passa para 8 e o total da votação, no conjunto dos três partidos, ultrapassará os 44 %. A aritmética pode não ser correta, uma vez que não é possível distinguir o real peso de cada um dos partidos na coligação. Mas no sentido político, já que esses partidos se uniram para alargar a votação, o raciocínio passa a ter algum sentido.


*) jornalista