Eleições - 2024

 

O que pode mudar nas eleições de 4 de Fevereiro

 Publicado no "Diário Insular" e "Diário dos Açores"



Num momento em que se aponta para a realização de eleições regionais tem sentido rever os resultados do último acto eleitoral, pelo menos para refrescar a memória.. As circunstâncias que marcaram a realização deste acto eleitoral são, em muitos aspectos, estranhas e podem ter influência nos resultados. 
Porventura, o elemento mais seguro é que a abstenção, que já tinha baixado em 2020, possa ainda ser menor face ao debate mais intenso e mais interessado que se espera perante as dúvidas que se colocam.

 

Raramente um acto eleitoral suscita tanta atenção. Muito mais do que se esperava. Desde as circunstância que fizeram cair o governo, a forma como foram marcadas as eleições e os temas até agora discutidos nos corredores que chegam ao debate público alargado.

Circunstâncias que, na opinião de muitos, farão com que o quadro político seja diferente. A maioria das pessoas pretende que saia um governo mais estável e que não esteja a mercê de arbítrios quase pessoais.

 

O que mostram os resultados das últimas eleições

 

Olhando o gráfico dos resultados de 2020 pode ver-se que o PS ganhou as eleições, mas levado pelo que passou no todo nacional, o PSD encontrou parceiros para garantir a formação de um governo. Com uma diferença mínima.. Na altura comentava-se que se tratava de uma solução pouco sólida e, sobretudo, sem qualquer sentido ideológico.

 

Essa solução acabou por durar mais do que muitos previram e o governo de Bolieiro conseguiu sobreviver e até granjear boa imagem em muitos sectores, em particular pela sua postura na relação com as  pessoas.

 

Dúvidas na queda do governo

 

Sem uma explicação muito clara, os partido deixaram de apoiar o governo chumbando o plano para 2024 com a mensagem de que não aprovariam outros documentos que se apresentassem. Uma posição pouco clara uma vez que não tem a ver com o conteúdo das propostas (que era o que estava efectivamente em causa). Com base nessa informação, o Presidente da República, ouvindo o Conselho de Estado, decide dissolver o parlamento e convocar eleições, deixando muitas interrogações.

 

Naturalmente que esta decisão vai fazer parte do debate e porventura  terá influência na opinião do eleitorado. O mesmo se pode dizer sobre quem teve responsabilidade de provocar estas eleições. Já muitos disseram e Álvaro Dâmaso recordou-o em texto publicado no Diário Insular: "Os partidos que fazem cair um governo perdem as eleições seguintes, assim reza a experiência, pelo menos a nossa".

 

O que há de novo

 

Ao contrário do que acontece a nível nacional, onde têm surgido várias sondagens, nos Açores não existem estudos de opinião, pelo menos conhecidos.

Naturalmente que as sondagens nacionais não têm qualquer validade no quadro regional. Inclusive em várias ocasiões os resultados nos Açores foram diferentes das eleições no conjunto do país, mesmo em proximidade de datas.

O que surge de novo nos Açores e que pode influenciar os resultados: O PSD; o CDS/PP e o PPM apresentam-se, agora, em coligação, um fenómeno sobre o qual há dúvidas relativamente aos efeitos que terá no eleitorado; o PS apresenta-se sem inovações; o CHEGA deixou de ser "tabu" e hoje as pessoas comentam abertamente o que pensam e também, se for o caso, assumem, sem receio, que vão votar; é muito provável que haja um debate mais activo e uma campanha mais intensa nas ruas, que poderão  diminuir a abstenção e influenciar os resultados; nas conversas informais não se nota grande descontentamento na lavoura (sector que tem um grande peso no eleitorado), em contrapartida dentro da função publica, há um  desagrado, cujas razões não são muito claras; nos temas em debate vai estar muito presente o turismo, sobretudo as opções relativamente as operações aéreas.

 

Mas, porventura, o que vai ter maior peso é a estabilidade. De um modo geral, as pessoas não compreendem a necessidade desta eleição e, portanto, vão pesar muito bem qual dos lados se apresenta com melhores condições de conduzir a uma governação estável.