1 - Qual a
análise que faz aos resultados eleitorais na sua ilha? Quais as causas e as
consequências previsíveis desses resultados?
A Terceira é
uma das ilhas onde há uma das melhores culturas democráticas, por razões
históricas. Já em 1992, quatro anos antes da queda do PSD, o PS venceu em Angra
do Heroísmo e no conjunto da ilha ficou a décimas de bater o PSD.
É uma ilha
que tem pouca iniciativa no campo da concretização de projetos, em
contrapartida tem uma formação política que vêm desde a implementação da
autonomia cultivada pelas pessoas que idealizaram o projeto autonómico e em
tempos tiveram a coragem de encarar o regime.
Nestas
últimas eleições regionais, a Terceira votou de acordo com a maioria, como já
se esperava mas, se for necessário, também vota contra a ordem geral.
De resto, a
Terceira tem várias queixas contra o regime, pelas orientações, sobretudo, na
área do turismo e da operação aérea e um dia isso poderá sentir-se nas urnas.
2 - José
Manuel Bolieiro decidiu avançar com um governo de minoria. Como avalia essa
opção no contexto parlamentar que passa a existir?
É uma opção
que lhe trará algumas dores de cabeça. Mas, a sua posição firme no sentido de
não ficar prisoneiro de outros forças partidárias valeu-lhe um grande capital
político. Creio que conseguirá tirar partido desse facto.
Na verdade,
os outros partidos também não têm todos os trunfos que julgam, porque a
repetição de eleições pode não lhes ser favoráveis.
3 - Como
avalia os resultados do PS e do Chega na Região? O que justificará tais
resultados e o que indiciam para o futuro?
O resultado
do PS resulta fundamentalmente da falta de inovação no campo dos projetos.
Muito do que foi criticado, poderia ter sido feito pelo próprio PS enquanto
governo.
Contou,
porventura, de igual modo, a imagem que se foi generalizando, relativamente à
forma pouco empática do líder.
Por outro
lado, quando se fala em renovação de listas é uma ideia que nem sempre
funciona. Degrau a degrau se fazem políticos com maior solidez.
O Chega é um
fenómeno novo -- em 2015 não tinha nenhum deputado à Assembleia da República,
em 2019 obteve apenas um mandato e em 2022 já atingiu 12 deputados. É uma força
política que segue o seu percurso na Região, como no país e pela Europa fora.
Segundo Victor Matos, autor do livro "Na Cabeça de Ventura", o que
alimenta o CHEGA é mais um voto de indignado do que protesto..
4 - Com o
histórico existente, parece-lhe pertinente equacionar uma qualquer abordagem ao
sistema eleitoral que, por exemplo, possa tender mais para soluções de
governabilidade?
Neste
momento, julgo que não há necessidade de proceder a alterações ao sistema
eleitoral. Os Açores já deram um salto de gigante no sentido de alargar o leque
partidário do parlamento com a implementação do Círculo de Compensação.
O resto é
feito segundo a vontade do povo que vota como entende nas diferentes eleições.
O resto cabe
ao diálogo e à capacidade do Parlamento em encontrar soluções para formar um
governo. Não há espaço para chumbar permanentemente os governos, porque o povo
perceberá e no tempo certo votará de forma a conseguir um governo estável.
Também não é
saudável para a democracia governos prolongados durante décadas como tem
acontecido.
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